segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Segredos do Alto

Décimo andar.
Cidade meio iluminada. Luzes foscas.
Uma janela para o mundo. E ali dois personagens do tempo dialogam.
Trocam olhares e palavras.
Cada vez mais olhares. Cada vez menos palavras.
Discutem. Dissertam. Palavreiam. Sonorizam.
Aonde querem chegar? Nem eles próprios sabem. Só querem manter a prosa. A conversa. Manter a permuta de sentimentos sem ao menos nada dizer.
O crepúsculo cai, e com ele as máscaras, e os desejos afluem. Afloram.
É assim que a noite chega e traz os segredos entrincheirados com ela.
Nesse momento, ali, a tantos metros do chão, dois corpos engalfinham-se. Descobrem-se. Devoram-se. Misturam-se.
E nessa mixagem, há um descobrimento. De vontades, e de desejos. De tempos e espaços. E de vontades. Próprias ou alheias, ou até mesmo comuns.
O tempo parou, ou pelo menos fez sinal de parar. Já nada mais interessa. Tempos ou lugares. Nada mais importa.
O importante é fazer acontecer, para depois acontecer.
São dois corpos. Vão se fundir em um só. Único e singular.
E assim as horas vão passando e com elas o amor se faz.
Não completamente. Apenas ao meio. Pela metade.
O gozo foi parcial. Teve gosto amargo. Efusivo.
Mas teve sabor. E saboreado foi. Degustado e medido na mais plena consciência.
E assim ficou mais claro e mais lindo o dia.
À noite.
O sentimento e o pensamento.
E assim foi, e assim será.
Pois que seja.