terça-feira, 11 de dezembro de 2007

" Sopro da saudade "




Já por algum tempo eu olhava perplexo para o topo da serra contemplando o vazio. A chuva caía mansamente e cobria todo o vale como se fosse um manto de véu bem fininho que apenas ofusca o que lhe traspassa. Hora levada pelo vento parecia dançar sobre o tempo. Hora caindo bruscamente como se formasse um piquete direto ao chão. Com uma caneca de café cor preta que havia ganhado de aniversário empunhada na mão direita eu simplesmente deixava o tempo passar e observava insosso o crepitar dos pingos da chuva no telhado estilo francês que dava um tom aconchegante ao chalé aquecido por uma lareira simples no meio da sala.
Como som ambiente uma música interpretada por um dos irmãos Venturini, intitulada “Criaturas da noite” lembrava-me com sua letra essa parte negra do girar terrestre. De fato, as criaturas da noite, pouco observadas pelos habitantes embalados pelo sono dos deuses, fazem um balé de um jeito todo diferente e especial de celebrar a escuridão. Como entoava o intérprete, “num vôo calmo e pequeno, procuram luz, aonde secar peso de tanto sereno” absorvido pelos seus corpos noturnos.


De fato, a noite é ímpar. E naquela tarde de verão (ou seria de inverno, por que no hemisfério sul o verão é sempre época de muita chuva e mais se assemelha ao inverno do hemisfério norte onde a neve alva rege o período), eu me preparava para com os olhos dispersos adentrar calmamente no crepúsculo ausente de plenilúnio, e abundante em densas névoas e nuvens negras, arautos de um tempo pesado e inclemente. Amiúde este tempo nos torna amuados e melancólicos, esvairados e com uma sensação indelével de impotência diante da natureza, como se esta comandasse mesmo os nossos destinos e como se dela dependesse nossa beatitude ou gozo infernal.
De qualquer forma, era nessa sensação que eu me achava nesta tarde de garoa fina. O café forte esfriara e era hora de abastecer novamente minha caneca com este líquido estimulante e deleitoso para os solitários. Diria até que o café é uma bebida companheira.
Fui até a copa, e pela primeira vez senti uma sensação de vazio intermitente quando ao fundo, bem próximo do quadro de minha mama, estava a garrafa de café, solitária e triste, como se também quisesse me passar essa referência, afinal, hoje é uma tarde de domingo, quando nada mais temos a fazer a não ser contemplar o inexistente, e ainda mais com uma chuva fina ao relento.
“Noves fora, nada” quero prosseguir minha ortoépia apontando a seta para esta tarde, bucólica, sobretudo excessivamente nostálgica em que me encontro mormente a apreciar o cair da tarde ao som da família Venturini tendo como pano de fundo as gotículas da chuva encenando com seu mudar rápido e desordenado de direção o que mais se assemelhava a uma dança flamenca com passos exímios, repisados e reprisados, como se fossem páginas da epopéia da vida. Vida minha.
É neste cenário que me reporto aos dias de luz ou da falta dela. Aos tempos de breu e as horas resplandecentes da saga humana. Aos dias em que o sol brilhou mais forte, através dos acontecimentos, ou que a tempestade revelou-se pelo mesmo motivo. Só em dias assim, como este, de chuva miudinha e persistente, pode-se refletir nas páginas amarelas do pretérito “odisséico” de nossa vida.
Todavia, o café esfriou novamente. O amargo com que o bebi quando incandescente tornou-se agora insípido. É hora de recarregar a caneca de novo. A mesma caneca preta que me acompanha por longos 30 anos. Não sei quem é mais companheiro, se a caneca ou o café. Talvez sejam eles os grandes confidentes. Os únicos em que confio.
Viro-me novamente em direção à copa. Mas desta vez parei em ato de reflexão. Por alguns eternos segundos, decido que não é mais tempo de olhar a chuva. Ela já disse-me o que queria. Eu já vi o filme sobreposto na tela do tempo e da vida. Está faltando somente o epílogo, e sobre este não tenho controle. Por isso, volto-me para a maçaneta e fecho o vidro. Manejo a persiana como se fosse terminar o espetáculo e descer o pano sobre o palco.
Não quero mais o café. Por hoje ele está dispensado. De fato, por hoje não quero mais pensar em nada.
Deixe que o tempo siga seu curso e a vida tome seu rumo. Por ela própria. Sem forçação. Apenas antevejo que a felicidade não tem dono e é assim, como uns caquinhos de cerâmica. Precisamos juntá-los ponto por ponto para descobrir o todo e costurar a ferida aberta entre o real e o imaginário, entre a alegria e a desfalência, a sangria e o nó atado. A forceja e o milagre do existir.
Agora, estou só, sentado na poltrona grande em frente a lareira. Sinto apenas o aquecer das labaredas, que no frio intenso vão me adormecendo e deixando me levar pelos sonhos que moverão o meu seguir. Lento... Lento... Lento... Vento... Tempo... e alento...
Zzzzzzzz...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Confinamentos da alma

Já era a segunda vez que começávamos aquele assunto incômodo. Ele dizia-me insistentemente sobre o instante relâmpago que houve entre vocês, e eu, acabrunhado como sempre, era obrigado a ouvir aquela história de final de feira. E, ainda por cima, pela segunda vez! Francamente, subiu-me um desejo ardente e venenoso de pedi-lo para parar aquela tortura inquisidora, como em tempos medievais. Era como se cutucasse a ferida. Como se recitasse o nome do demônio amiúde ao Cristo na cruz, como que querendo lembra-lo de sua situação morredoura em virtude daquele criminoso satânico que lhe impusera tal condição. Mas, retive-me. Abortei a idéia em nome do respeito e da admiração adquirida pela sua pessoa. Sobretudo, Foi um vacilo o ocorrido. Mormente você comportou-se como alguém que em total desespero, não tivesse mais opções na vida. Comportou-se como alguém em fim de carreira. Como se qualquer coisa pudesse servir-lhe de consolo. E justo alguém completamente sem o mínimo de cumplicidade ou de inteligência para dar em troca. – Deus meu! Como foi triste ouvir aquele relato erótico e antagônico de um simples encontro casual que nada mais tinha de futuro, ou de passado. Tão somente de presente, e completamente sem sentido. Apenas rasgos efêmeros, barulhos eróticos que nada tinham haver com amor ou sequer a química da paixão. Nada! Só prazer, seguido de gozos extremos e puramente relacionados à parte animalesca do ser humano. A parte selvagem em que um ser humano possui o outro apenas pelo prazer de possuir. Como nos tempos das cavernas. Com um aditivo cabuloso e atual: O de poder contabilizar na sua vida as pessoas que por ela passam. Não que isso não possa acontecer. Não que eu esteja pregando moralidade. Longe de mim pregar o que não faço, e o que sobretudo, não sou. Não que isso não exista, mas tinha que ser com você? Parecia mesmo inacreditável. Não conseguia associar o relato moribundo que eu ouvia como uma marreta na bigorna auditiva à pessoa que eu estava agora rebuscando e descobrindo. Mas mantive a compostura. Com um semblante terno e pueril eu simplesmente revoguei o assunto, desviando-me para as mesquinharias do dia a dia. Hora em quando, hora em vez, o mesmo caso vinha à tona. E eu, educadamente, o reencaminhava para futilidades. Aliás, se quer saber a verdade, num desabafo exaustivo, senti você assim: mesquinha e fútil. Em nada se parecia com a pessoa, que em dias anteriores, declamava-me trechos escolhidos e cuidadosamente rebuscados do romance “A hora da estrela”, de Clarice Lispector. Como se tivesse uma visão refinada da vida e compreensiva dos seres humanos com fins em meio aos próprios meios. Não, não se parecia com você e não era você. Não podia ser você. O que eu ouvi da boca do contador de vantagens vinha de uma “atitude” de um ser humano normal, pecador e mortal. E pra mim você não era um ser humano normal. Nem ser humano você era. Para meu pequeno véu pensante, você era um anjo, e sem asas.
Contudo, para minha decepção mordaz, era mesmo você. Não havia dúvidas. Era sua pessoa, que num surto psicótico, tomou-se de uma roupagem meretrícia, e em alguns minutos de prazer incomensurável, preferiu imputar-me um holocausto que, vez por outra, invade-me o invólucro mental e impõe-me a tortura, a raiva, o choro e a revolta.
Nem sei se posso apropriar-me destas “virtudes”, só sei que seguem-me insistentemente, como uma sombra repugnante.
Persegue-me também a idéia de percejar na vã esperança de que assim como a noite mingua a sombra do sol sobre os corpos terrestres, até que por fim esta se dissolva na escuridão plena, que assim também da mesma maneira o tempo leve embora esta penumbra inquietante de um conto mórbido de um encontro casual diuturno. Uma sombra altiva no Cáucaso do ocaso diário. Para que desta forma meus pensamentos descansem em paz e não retrocedam aquele meio dia fatídico que me levou uma parte de você. A parte fiel e essencial da pessoa tranqüila e serena que achei ter encontrado. De fato, não sei mesmo se jamais recuperarei esta pessoa em você. Por que me foi como um golpe na retaguarda saber que o alguém resplandecente que achei perdeu-se numa entrega erótica e avassaladora de meio dia, tornando-se uma pedra algoz em meu sentido marcante da consciência, e para sempre deletando em meu recôndito como um fio de navalha a eloqüente alma tenaz e diligente que achei um dia descobrir.
Minha busca continua...

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Aprendendo?

Bom dia.

Li sua mensagem. Falava sobre aprender a amar. Tenho um péssimo português. E um espanhol pior ainda. Mas consegui entender o que estava escrito.
Quer dizer, a mensagem era muito bonita. Muito instrutiva. Mas ao mesmo tempo me pergunto o que você queria dizer com ela. Seria que você ainda está aprendendo a me amar? Ou seria que eu estou aprendendo a amar?
Devemos aprender? Não sabemos?
Deveras, isso não entendi. Mas o que interessa?
A cada dia temos ficado mais próximos, estreitos.
A cada dia tenho me sentido mais feliz com sua presença e com seus afágos.
Você é um bálsamo em minha vida.
Tenho sentido sua presença a cada instante nela.
Tenho me sentido a cada hora mais feliz.
Mas, a dúvida permeia.
Até quando?
Sofro por antecipação. Mas sou assim. Quando o sentimento é real, sofro.
E espezinho. Questiono. Percejo. Por que quero saber o futuro, qualidade não inerente aos pobres mortais. Mas mesmo assim quero. Não me considero um mortal, por que viverei para sempre nos corações daqueles que passam pela minha vida ou me deixam passar pela deles.
Mas mesmo que isso seja apenas utópico, mesmo assim quero saber o que se passa no seu coração, no mais recôndito de sua mente. Pra ter a certeza de que não serei deixado pra trás.
Quem será você? Será alguém pra sempre? Ou virá e irá como a bruma das manhãs de todos os dias à beira-mar?
Será pra sempre ou apenas uma chuva de verão?
O vento minuano?
Essa é minha dúvida mordaz. E algoz.
Apenas o que sei é que você tem me feito muito bem.
Vamos viver isso.
E esperar.
Pois que venha o amanhã!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Uma conversa antiga

você nasceu pra ser querida
por mim
pra mim
nao vou falar sobre isso por que sofro muito
prefiro rir
mas cada vez q olho pra você
sus ojos
sofropor te adorar
por te querer
por te desejar
por te amar
por te venerar num altar da vida
sua santidade é realplena
mas ao mesmo tempo de ti emana um desejo
desejo meutambém pleno
total e realque deus me ilumine
mas que ilumine muito mais seu caminho
pra você saber que depois da curva do rio
eu estou
é o dia que sinto falta de você
de seu olhar
de suas palavras
de sua compreensaodo seu jeito
hostil, mas amável
decidido, mas recuante
adorável e ao mesmo tempo sedutor
de vez em quando me baixa a lembrançae aí é quando sofro
por que sei que nasci pra amar você
e será assim por toda minha vida
nao fique.apenas acredite.pelo amor de deus
acredite
é uma pena que você acha assim
por que nunca passou
só ficou adormecido
moça
ahh
deixa pra lá
o tempo
é apenas senhor de tudo
mas nao apaga um sentimento
nao apaga as lembranças e o renovo da vida
pra mim você é e será insubstituíve
lé assim
uma pena que nao acredite
mas será assim
e eu nao me importo
por que por você vale a pena
que pena mais uma vez
nao se preocupe
eu vou vivendo
nao morrerei agora
mas morrerei por você
de amor.
e feliz

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Âncora


Sou vento minuano,
Você, a brisa da primavera,
Sou o olho do furacão,
Você, a chuva fina e gostosa numa manhã de verão.
Sou o Tigre,
Você, um gato siamês sonolento aos pés de seu dono.
Sou Rocha,
Você, a areia do mar na sua beleza e infinidade.
Sou um tiro de canhão,
Você, a flecha certeira na alma do poeta.
Sou terremoto devorando tudo,
Você, a bonança depois da tempestade.
Sou a dor de dente,
Você, o bálsamo revigorante,
Sou um aleijado tentando uma subida,
Você, a muleta que tanto necessito.
Sou a cólera ulceral,
Você, o tônico que cura.
Sou o réu culpado,
Você, a sentença de liberdade,
Sou o sono profundo,
Você, a cama quente numa noite de chuva.
Sou o inverno,
Você, a primavera.
Sou o louco,
Você, a mente.
Sou um nada,
Você, a vida!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Você é a calmaria, eu sou a tempestade


Foi uma bela noite,
Saiu melhor do que a encomenda,
Superou as expectativas,
A nossa conversa foi importantíssima,
Aliás, é tudo de que mais gosto,
Uma boa prosa,
E até nisso combinamos,
Até nisso temos a química perfeita.
E aquela noite em uma praça abandonada me ensinou que devo ouvir você sempre, não importa o que aconteça.
Pra não me sufocar nos meus anseios.
Você não deixa.
Mas adoro mesmo seu jeito gostoso de falar,
Sua voz macia me acalma,
Adormece meu estresse.
Você tem um jeito todo especial de me ensinar a vida,
E de acreditar na vida...
É isso que me faz prosseguir,
Seguir adiante, e estar apreciando estar a seu lado,
Seguindo adiante e em rumo reto.
Tendo em vista o futuro
O prazo longo, o estar junto,
Lado a lado como quem mira o destino e parte em busca dele confiando em si e nas próprias forças,
De fato, em alusão a você: “ Gracias a Dios puedo tener usted en mi vida”

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Essência


Eu a conheço muito mais do que tu se conheces,

Sabes que sei dos teus passos,

Sabes que sei até onde podes chegar,

Sabes que sei quando tu mentes e quando dizes um pouco da verdade a que te propôes.

Tu te conheces, mas tens em ti a certeza de que sei o que tu pensas.

Sou capaz de prognosticar tuas ações e penetrar seus pensamentos.

Tu conheces e te assombras com isso.

Mas percebes em mim algo que não te oferecem.

Te oferecem amor, mas não te oferecem conhecimento.

Te oferecem prazer, mas não tens a saciedade da tua alma.

Te oferecem o mundo, mas não te oferecem a essência.

Por isso, sentes a minha falta.

Sentes a falta do muito que sou dentro de ti.

Sentes a falta da minha essência entrincheirada em tua personalidade.

Sentes a falta do aroma do meu caráter e do cheiro da minha verdade.

Desprezaste, não um corpo, mas a essência.

Desperdiçastes não o frasco, mas o perfume.

Sentirás a solidão do meu abraço.

Sentirás a úlcera dos meus afagos.

Estás a caminhar em busca do nada.

O vento bate à tua porta.

E logo, logo verás que o mundo imporá a teu semblante o rugido da fera da decepção.

Do amargor e da descrença.

Eu não sou o que tu querias,

Mas não terás jamais o que sou.

Tu ficas,

Eu vou!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

alguém

Posso ser um idiota em grau maior.
Posso resistir mesmo quando isso está fora de moda.
Posso ser a pessoa mais recatada e apesar disso você nunca conhecerá ninguém que seja tão pessimista como eu sou algumas vezes.
Sou a pessoa mais inteligente que você já conheceu.
Sou a alma mais bondosa com que já teve contato.
Tenho o coração mais valente que você já viu e apesar disso você jamais conhecerá alguém que seja tão otimista quanto eu, algumas vezes.
Você pode enxergar tudo, pode enxergar cada detalhe.
Você pode enxergar toda minha luz e deve até mesmo amar meu lado obscuro.
Você até vasculha toda a minha intimidade. Não tenho nada em comum com você Mas mesmo assim você ainda está aqui.
Eu culpo todo mundo mas não assumo a minha parte.
Minha passividade agressiva pode ser devastadora.
Estou assustado e desconfiado e você nunca conhecerá alguém que seja tão fechado quanto eu sou algumas vezes.
Aquilo que eu resisto persiste e fala mais alto que eu.
Eu resisto a seu amor não importa o quão pra baixo ou pra cima eu possa estar.
Sou a pessoa mais engraçada que você conheceu.
Sou a pessoa mais boba que você conheceu.
Sou a pessoa mais linda que você conheceu e você nunca conhecerá ninguém Que seja tão TUDO como eu sou.
Alanis Morissette - Everything

terça-feira, 17 de julho de 2007

Madrugada Companheira


A Lâmpada do quarto estava na penumbra. Eu já a havia regulado de maneira que não atrapalhasse meu sono. Na verdade, eu nem estava com sono. Por mais que tentasse, ele não me vinha. Mas, também, pela quantidade de café tomado, só podia mesmo ser esse resultado. Insônia! A minha grande companheira de todas as noites.
Prevendo que seria essa mesmo a minha sina em mais uma noite, pus-me a levantar e ligar o aparelho de TV. Nada! Só filmes enlatados, prontos pra consumo dos menos exigentes ou então programas evangélicos fazendo sua ronda noturna à caça de almas cansadas da vida, mas ávidas de uma palavra amiga.
Eu já não faço parte deste rol. Posso até estar cansado, mas meu dinheiro não é capim para ser queimado no altar do fogo santo de Israel ( que não pode mesmo ter vindo de Israel) e nem meu dinheiro é óleo vindo de Jerusalém para embalsamar meu corpo.
Sendo assim, me resta desligar o aparelho de TV e recorrer ao rádio. Mas eu gosto mesmo é de Rádio AM. Pra ouvir gente falando, vidas existentes na noite.
Rádio FM só toca música, e de música eu to enjoado. Vivem no meu cotidiano durante todo o dia. Já não vejo tanta graça assim, afinal. Mas gente não... Gente é diferente. Cada qual tem sua vida e sua estória, e ela aparece de algum jeito. E o comunicador sempre instiga, e o ouvinte sempre fala. E vira mesmo um bate papo legal. Diferente dos bate-papos de internet onde todo mundo fala escrevendo, e não tem condições de expressar a real emoção com que responde a uma pergunta. Todos falam tudo e ninguém fala nada ao mesmo tempo. Não, bate papo de internet é sem vida, e todo mundo só quer saber de sexo. Pára com isso!!! Quero mesmo meu radinho AM. Nele ouço conversas, e então, aventuro-me a até ir ao terraço da casa e levar comigo o meu companheiro da vida noturna. Ah! Mas não posso esquecer também a minha garrafa de café, o meu cafezinho. Ele será meu companheiro desta noite com lua quase cheia e uma fagulha de estrelas no oriente, mirando um destino que por tempos eu mesmo quis perseguir, mas não consegui.
E assim vai se passando o tempo e vão se passando as horas, o comunicador informa: duas da manhã, três...cinco...cinco e meia e aí aquele sono parece querer bater a porta... aí é preciso aproveitar... mas qual, nada!
Vou é fazer mais um pouco de café por que logo mais tenho que estar pronto pra rotina do dia.

sábado, 7 de julho de 2007

Busca...


Onde você estava, que não te achei em lugar algum? Eu ainda te procurei por todos os cantos dessa cidade imensa. Procurei-te nas ruas, nas lojas, nos bares, nas praças, e até nas “porteiras”, debaixo das frondosas figueiras, oliveiras e paineiras, mas não consegui te achar. Somente senti seu cheiro pela janela todas as noites de ninguém, quando pensei e repensei em você e em como seu sorriso é puro, mas ao mesmo tempo divertido.
Mas em que lugar você se meteu?
Eu não te acho. Procuro, rebusco, percejo, labuto a tentar encontrar-te, mas não consigo saber onde você estava. Minha mente divagou, viajou, alucinou e tentou em vão achar-te em cada canto vil desta imensidão de metrópole.
Mas foi na noite, a minha maior companheira, que eu percebi uma pista, e um caminho de onde te encontrar.
Foi a minha mais intensa amiga que me revelou onde você poderia estar.
Foi passando horas ao lado da lua, consultando as estrelas, proseando com os habitantes da intrínseca noite que fui me acometendo de uma certeza de achar-te. De perceber-te.
Foi em longas horas de um monólogo infindável que tive a certeza de que, durante todo este tempo em que esteve longe, em que não te vi, que te procurei, mas mesmo assim senti haver perdido você, sim, foi dessa forma que cheguei a conclusão, após aconselhar-me com o crepúsculo e o alvorecer, ao mesmo tempo, que concluí na verdade que você nunca esteve longe. Sempre esteve presente. Escondida, mas presente em meu coração. Nunca saiu dele, só se fez de estátua, gélida estátua, para depois, derreter o invólucro de gelo postado em camadas de frieza fora de você, com o calor abrasador do meu sentimento.
Só eu tirei você de mim, e só agora posso recolocar-te de novo de onde você nunca deveria ter saído.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pessoas insubstituíveis...


Algumas vezes, senti-me perplexo, pairado
Outras vezes tênue e oblíquo.
Juro que as vezes insensato...
Outrora amargo...
E ainda outrora, nostálgico...

Não sei o porquê,os por quês,
As reticências, os malefícios ou as razões pela qual me sentisse tão inesperadamente alterado naquilo que instiga minha alma.
Mas nada como não ter você por perto.
Nada mais angustiante do que não sentir
o sabor de sua áurea incrustada
no peito ou exalada pela mente como um perfume que se lembra durante
todo dia depois de cheirá-lo apenas por alguns minutos.

Você está cravada...
Enfincada...
Estaqueada....
Em mim.

Você perambula pelo meu ser,
Divaga pela minha mente,
Opera meus pensamentos
E embaça meu raciocínio..

Arranca-me gargalhadas,
Depois impõe-me o choro...
Por você sou circo e funeral ao mesmo tempo...

Por você sou calor e sombra no mesmo instante.
Amor e dor
Lua e Sol
Norte e Sul
Surpresa e Saudade
Tudo...
E nada!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

À sombra da noite


Fiquei parado em frente ao prédio onde ela morava por horas a fio. Fitei calmamente e com o semblante ávido e impávido a luz que emanava do seu apartamento. Fazia frio. A brisa que adentrava pelo meu rosto como que amaciando os pêlos duros de minha barba indicava que haveria ainda mais de esfriar porquanto o véu da lua cobrisse o céu e tapasse, negramente a luz do sol que pelo dia havia imperado.
Lá pelas tantas, percebi que havia, exausto, deixado-me levar pela magia do sono. Pela magia do sonho, pois, naquela madorna, entre a fantasia e a realidade, imaginei, que a luz do apartamento havia se apagado, e, que, apenas no lusco-fusco do abajour, a sua silhueta beijava um forte e alto corpo, que, apressadamente colocava o chapéu e apanhava seu “sobretudo” dando apressados passos em direção a porta. Nesse ponto, acordei, com um guarda-vigia batendo no pára-brisa do meu corcel 76 indicando-me o seu relógio, e balbuciando que aquela já não era mais hora de se estar dentro de um veículo em plena avenida Central, dormindo, como se o mundo fosse feito apenas de anjos. Eu precisava acordar, afinal, o inferno também existe. Literalmente, eu necessitava despertar. Assustado, inquieto, olhei novamente a janela, que agora já sem luz, estava consequentemente, sem vida para mim. Haveria meu sonho de ter sido verdade? Haveria mesmo alguém na sua companhia? Eu insistia em saber, enquanto o senhor guarda também insistia que eu abrisse a janela do carro e lhe satisfizesse seu questionário de dúvidas em saber o por que de um homem, com leves grisalhos sobre a testa, permanecer com o seu carro estacionado no canteiro da avenida Central fitando, mas ao mesmo tempo com os olhos perdidos, um apartamento no quarto e último andar do edifício “Aroeiras” precisamente às três e meia da manhã. Pelo menos era o que o relógio da Catedral indicava. Aliás, relógio imponente aquele. Totalmente iluminado, vistoso, garboso, informando a longas distâncias as horas cruciais da vida e do cotidiano metropolitano da minha intrínseca cidade, que de dia mais se assemelha a um vespeiro com suas fabricantes de papel, misturadas, entrincheiradas e alinhadas ao mesmo tempo, ordeiramente, e de noite frígida e silenciosa se parece com um cemitério onde as almas descansam sem nada ter que ver com as quezilas humanas. Era daquele relógio da torre da Catedral de Santa Rita de Cássia que eu percebia que a madrugada já era finda. As primeiras rajadas de luz no alvorecer já intimidavam o breu. Era preciso ir, mesmo sem querer. Mas era preciso. Mais um pouco e já não faria mais sentido estar ali, principalmente se ela me visse. Seria o ápice da vergonha. Ou da falta dela. Mas o que me intrigava mesmo era saber se meu sonho haveria sido realidade, ou se a minha realidade haveria entrado no meu sonho, ou se o meu desejo havia feito com que ela entrasse. Parado, argüindo comigo as prováveis possibilidades daquela noite, desguarnecido do tempo e da hora, despertei de vez para a vida quando um raio do astro-mor esbofeteou-me a face, anunciando sua chegada.
As luzes se apagaram. As vespas voltaram à ativa, e eu, ali, inerte, simplesmente ajeitei-me no assento, liguei o motor e dei a partida, carregando comigo a eterna dúvida pela qual desfez-se aquele romance impetuoso e intempestivo. E fui-me, partindo devagarinho, como se com o nascer da aurora, morresse em mim a esperança de que eu não havia sido trocado, mas apenas, abandonado.

Visão apocalíptica do mundo -Parte 1



O mundo não tem conserto. Vamos todos explodir no fim. Se a gente não explodir por um idiota qualquer cismar de querer conquistar o mundo, vai explodir por que a camada de ozônio vai deixar de proteger a terra e seremos envolvidos por uma massa quente que dará cabo às vidas humanas.
Ou pode ser também que uma doença pestial invada os corpos dos homens e reduza sua raça a pó. O dejeto produzido pelos corpos em estado de putrefação causará gases que chocarão seus compostos químicos e farão o mundo explodir.
Ainda há uma possibilidade que não pode ser descartada. A de que Deus exploda o mundo. Mas aí sem injustiça. Se ele vai explodir tudo isso, com certeza alguns humanos irão gozar de uma beatitude ou de uma recompensa pelos bons atos cometidos durante sua vida neste sistema atual.
Mas uma coisa é certa: Que o mundo vai explodir, isso vai. Ele tem que explodir! Precisa.Vai acabar, os homens vão se odiar cada vez mais por serem ávidos de poder e por serem ávidos de riquezas também.
Só sei de uma coisa: Não haverá salvação, a humanidade está fadada a acabar por suas próprias mãos ou então por uma pedra de seis mil megatóns Deus vai lançar aqui e tudo isso vai ficar sem Ter ninguém prá contar a história.
É o Armagedom!
Deus nos acuda...
Amém!

Visão apocalíptica do mundo - Parte 2

Seguindo a sugestão de um amigo, embrenhei-me na leitura de um livro chamado "Era dos extremos – o breve século 20" do autor Eric Hobsbawm, livro este que retrata a história mundial desde o início da primeira guerra mundial até o desmoronamento do regime comunista em 1991. Confesso que ao iniciar a leitura deste livro, o considerei um tanto quanto enfadonho para aquilo que gosto de ler. Amo história. Na verdade, amo a história mundial, mas, sinceramente, não gosto de muitas dissertações. Acho que ser claro, simples e ir direto ao assunto é mais emocionante do que divagar sobre um monte de sinônimos para falar uma única coisa, um único assunto. Aproveitando a oportunidade e não sendo muito divagante ou dissertante, confesso que de início não gostei desse livro. E ainda o estou lendo. Está complicado, mas vamos tentar chegar até o final.
Porém, algo que me chamou atenção ao ler trechos do livro foi entender melhor como funcionava a "guerra fria" do período pós-Segunda Guerra Mundial. Achei interessante entender como Estados Unidos e URSS "dominavam" o mundo apenas através de ameaças. Nenhuma das duas potências estava disposta a por assim dizer, "apertar o gatilho" ou a acionar o tal "botão vermelho" a que tantos filmes aludiam naquela época ( especialmente entre os anos 60 e fins dos anos 70) e que podia decretar o fim da humanidade. Porém viviam insinuando esta possibilidade. Assim que um lado ensaiava alguma ação mais expressiva de guerra, o outro também mostrava as mangas de fora e através de alguma atitude um pouco mais radical, indicava que poderia fazer o mesmo. Diante da ameaça da autodestruição, ninguém fazia nada. E assim fomos passando as décadas de 60, 70, 80 até que chegamos ao início dos anos 90 com a queda ingloriosa do comunismo. O mapa mundial mudou. A Europa mudou. E o mundo atingiu o seu ápice capitalista. Enfim estávamos livres da ameaça que poderia destruir o mundo. A humanidade estava salva da "fera" comunista que podia engolir os homens e os fazerem mais infelizes e desgraçados. Reinava a política certa para a humanidade: o Capitalismo! Reinava a forma certa de governo: a Democracia!
Hoje, mais de uma década depois daquela época marcante na história, chegamos de fato a algumas conclusões reais: O mundo mudou pouco no aspecto político. Quase nada. As ameaças permanecem, continuam. E a forma de governo agraciada pelo povo em fins dos anos 80 não fez ninguém mais feliz de lá para cá.
No aspecto social, a humanidade continua cada dia mais pobre. Completamente dividida. O Capitalismo triunfante resultou na escravidão econômica de países pobres aos países ricos. Os países ricos não estão mais tão ricos assim. O colapso mundial é evidente, e os homens amanhecem com medo do dia seguinte. Medo e dúvida quanto a se irão existir no outro dia ou serão vítimas da violência desenfreada. Medo da doença imperante cada dia em novas formas. Medo da possibilidade de viver...neste mundo livre do império comunista.
Significa isso que o império comunista seria o melhor para o mundo?
Nem tanto. Ele ainda existe na sua forma oriental, e pelo que sabemos, não gerou felicidade e solução para a humanidade enfraquecida e empobrecida. Os aderentes do comunismo continuam tão escravos quanto dantes.
Diante de tudo isso, claro que nos resta uma única pergunta: Então, o que esperar do futuro? Uma nova política de governo? Uma nova forma de governo? Uma fórmula mágica que possa colocar a humanidade nos trilhos da prosperidade e da felicidade.
Chego eu à tenebrosa conclusão: A não ser que o divino intervenha nos assuntos humanos, dificilmente chegaremos a alguma lugar. Dificilmente faremos do mundo paraíso. Nós estamos mesmos fadados a acabar como raça e como povo. É o fim da humanidade. Acabou-se a esperança. E o sonho da felicidade!
Que Deus nos ajude! Amém.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

" We are the champion, my friend! "


Eu acho que já nasci atleticano. Acho que no ventre de minha mãe eu já gritava: “Gaaaaalo”!
Se não nasci atleticano, ao menos meu coração já era atleticano desde o nascimento.
E se meu coração não era atleticano, ao menos minha alma já era.
Ou seja, de alguma maneira eu sempre fui atleticano.
Falo isso por que nasci num antro de cruzeirenses. Por isso, arrisco-me a dizer que num determinado ponto em que o espermatozóide que me originou passava, ouviu alguém dizer: “ Quando virar gente, torce pro Galo!”... e deste sôpro no ouvido ( se é que espermatozóide tem ouvido ) eu jamais me esqueci.
Gosto da cor azul. É uma das cores que me fazem bem. Mas não para torcer. Só pra decorar. Por que, na verdade, venero com toda a minha força e com toda a minha paixão a cor alvi-negra. É a cor do coração. Quem disse que ele é vermelho? É preto-e-branco e bate forte que é uma beleza.
Mas só é preto-e-branco no coração dos apaixonados.
E eu sou um apaixonado, pela vida. Só por ser assim, eu já sou “Galo”. Sou Galoucura, sou Galo Prates, sou SeleGalo, sou NetG@alo. Sou tudo que diz respeito ao meu time do coração. Da mente, da alma e da força.
Sou Campeão de Minas. 39 vezes. Sou mineiro, e tenho cara de atleticano. Sou chato, mas sou Galo. E é assim que a gente vai vivendo, vai levando.
Hoje eu tô feliz da vida, tudo que vier é lucro e todo lucro é bem vindo. Nem do meu chefe vou ter raiva hoje. Ele está perdoado até pelo que ainda não me fez.
O jogo foi de 180 minutos, e neste saldo o Clube Atlético Mineiro ganhou de 4 x 2.
E assim, sagrou-se campeão de Minas. E ser campeão de Minas é muito importante por que “...minas são muitas”, como bem disse o grande escritor João Guimarães Rosa.
Sendo assim, somos campeões de muitas faces, de muitas vidas, de muitos jeitos de viver, de muitas almas que vivem com o coração na ponta da chuteira nesse imenso estado que mais parece um país.
Viva o Clube Atlético Mineiro. Viva o Galo mineiro. O Galo mais lindo do mundo!
Que me perdoem os outros clubes, mas ver o Atlético ser campeão tem um saborzinho melhor. Ver que quem venceu não foi o salário em dia, os grandes jogadores de contratos milionários, o C.T de treinamento mais moderno, a palavra afiada na ponta da língua, a esnobação. Sim, observar que quem venceu foi o amor à camisa, ao clube e à imensa nação alvi-negra enche o nosso peito de orgulho e nos faz esbravejar com toda a garra: “ Como é bom ser atleticano!...”
E essa história não pára por aqui...

terça-feira, 1 de maio de 2007

A Paixão mais forte do que a morte


Meu pai era cruzeirense. Meu saudoso pai também era um exímio jogador de futebol. Um dos mais famosos da nossa cidade.Uma personalidade marcante. Bem querido por todos e acima de tudo, um excelente pai de família. Não me recordo de nada que faltasse em nossa casa sob a batuta incansável de meu pai, que além do grande professor jogador de futebol, tinha a sua real profissão com que nos sustentava arduamente de sol a sol. Era pintor de automóveis e residências. E, novamente, não me sinto pretensioso ao dizer: um dos melhores da cidade. Que me avalizem as grandes personalidades da cidade que tiveram a honra e o prazer de ter seus carros ou suas casas pintadas por ele.
Sim, esse grande homem que me ensinou tudo que sei da vida, tinha o seu time do coração: O Cruzeiro. Afinal, esse foi o time em que teve oportunidade de atuar por algumas pequenas partidas na década de 60, mas que, entre muitos e tantos motivos, preferiu deixar pra trás numa bela tarde de sol, na semana, na capital mineira, para retornar à sua modesta cidade, escondida atrás dos “dois irmãos” defronte à malhada dos Santos Reis.
Mas mesmo esse pai maravilhoso que tive, e em que orgulhosamente admito ter deixado um belo exemplo e um belo legado para nós, seus filhos, mesmo esta “Gran Persona”, não conseguiu infundir-me a paixão pelo seu time do coração. Este legado ele não deixou. Sou atleticano, do coração, da paixão, da gota serena, como bem dizem nossos irmãos do nordeste.
E isso por influência dos meus tios. Estes souberam infundir em suas famílias o sabor atleticano. Os filhos também são. Assim como também consegui infundir em minha filha o sabor e o desejo alvi-negro no sangue. Coisa que, admitamos, os cruzeirenses não conseguem e nem detém o poder. Apenas isso lamento meu exemplar pai não ter conseguido: deixar-me a herança de ser cruzeirense. Graças a Deus!
É isso, o atleticano é assim, antes de tudo, um apaixonado. E com esta paixão contagia a todos em sua volta, impera em sua família, produz frutos, e exacerba o coração.
O Atlético Mineiro é assim. Não pelos títulos, pois os seus adversários os possuem em grande escala. Não pelos campeonatos, por que até o de segunda divisão foi freqüentado pelo clube do coração. Mas pela glória de ser “Atlético”. Pela honra de ser um time, um clube. Quem é atleticano deveras, não somente torce: sente!
Chora, ri, diz besteiras, mas jamais abandona seu time. E, se a barca for furada, afunda com ele, na mais total passionalidade possível de existir.
É por essas e outras que vibrei como um menino na última vitória do “meu galo”, como se habituam a chamar carinhosamente o grande time aqueles que o defendem. Os seus torcedores fiéis.
Não quero menosprezar com isso o time do cruzeiro: tem seus méritos, tem seus craques, não está lá em grande fase, haverá de melhorar, por que como dizem os mais antigos: tudo nessa vida é passageiro.
Mas não posso em hipótese alguma menosprezar aqui também a vitória do Galo mais lindo do mundo. Diante do seu maior adversário. De um adversário que tem mais equilíbrio financeiro, time de ponta, craques caros. E muita esnobação.
Tudo isso deu mais peso a esse grande jogo, que por acaso, assisti estando no trabalho. Teve um gostinho a mais sendo assim.
E para tanto, venho aqui externar as minhas congratulações ao time mais maravilhoso do mundo: O Clube Atlético Mineiro!
Não sei que rumos tomarão as coisas daqui pra frente e nem mesmo posso prever se meu time será campeão. Mas de uma coisa estou ciente: Essa vitória já lavou a minha alma, que se morrer amanhã, irá pura, leve e limpa para o gozo eterno!
Beijos a todos os atleticanos do mundo!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Tomei emprestado do Blog "Meus labirintos" do amigo Délio Pinheiro um post deste poema.Muita gente conhece, mas nunca é demais analisarmos... abaixo a transcrição do Post de Délio Pinheiro integralmente como ele postou no dia 02 de dezembro de 2004.

Este poema da Clarice Lispector é muito bonito. Ele representa bem o amor e ódio.


"Não te amo mais.
Estarei mentindo ao dizer que
ainda te quero
como sempre quis.
Tenho certeza que
nada foi em vão.
Sinto dentro de mim
que você não significa nada.
Não poderia dizer jamais
que alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais
que já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais..."

Agora leia de novo, só que começando da última frase.

sábado, 24 de março de 2007

JORGE E LENE

Jorge Era um eterno boêmio. Sempre viveu toda a vida atravancado com a bebida destilada e quente, e enlaçado pelas mulheres da rua Bonfim. Seu maior prazer era o prazer que as damas das camélias pudessem proporcionar, aliado a uma boa dose de conhaque misturado a uma cajibrina das mais “...dentes” da região ou dos fundos de quintais, produzidas na época.
Lene era uma mulher da roça. Ou da zona rural, como insistiam em dizer antigamente os próprios habitantes que não faziam parte do perímetro urbano das cidades, como se fosse uma humilhação admitir ter as raízes enfincadas no chão, assim como a manaíba desce com as suas para beber água no mais recôndito do subsolo. Humilhação mesmo é não ter origem.
Mas, preconceitos à parte, era daquele torrão que Lene surgiu. Morava lá pelas bandas de Coração de Jesus. Mulher difícil, era verdade. Tinha o “topete” enpinado como costumava dizer meu saudoso pai ao se referir a alguém de personalidade forte.
Jorge passou por várias mulheres em sua vida. Um casamento mal sucedido e ainda passou pela entrega completa ao álcool. Foi ao fundo do poço. Foi e ficou. Estava atolado, ou quase afogado, na maldita. E isso não poderia passar sem um tributo. Adoeceu, se recuperou, adoeceu, se recuperou de novo. E vivia assim, entre a doença e a quase doença. Entre a cirrose e a quase morte de um ser humano seduzido pelo líquido destilado e quente das prateleiras dos empórios nas esquinas esvoaçantes das noites eternas.
Mas Jorge teve berço. Filho de pai militar, teve a oportunidade de freqüentar um colégio militar assim como seus irmãos. Todavia, diferentes dos demais da família, não quis concluir os estudos. Preferiu a alegria e a companhia dos habitantes da infame noite, senhora de todos os nela perdidos.
Lene não teve a mesma sorte. Nem ler sabia. Apenas diante de si a falta de oportunidade que a vida lhe propôs. Vida dura, muitos filhos para criar e a sensação terrível de que o futuro parecia cada vez mais tenebroso. Sombrio.
Não sei ao certo onde Jorge conheceu Lene, ou nem mesmo sei se foi Lene quem quis conhecer Jorge. Certo é que suas vidas se cruzaram e seus destinos se encontraram em algum momento na perceja dura que a vida impõe.
Naquele exato momento, me imponho arriscar supor o que se passou na cabeça de cada um. Para Jorge, Lene era apenas mais uma aventura? Talvez. E para Lene, Jorge talvez fosse a perspectiva do fim de uma vida dura de sofrimento. Afinal de contas, apesar de totalmente entregue a difícil doença do alcoolismo, Jorge tinha casa, e tinha uma família estruturada. Olhando por este prisma, Lene sonhou... planejou... iludiu.
Atenho apenas a dizer que Jorge e Lene ficaram juntos. Jorge continuou entregue aos rompantes que a bebida faz acontecer. Adoeceu, maculou, cambaleou ante ao veneno da serpente espreitado no último gole ou no próximo copo de cachaça. Lene ao seu lado esteve. Acudiu, aparou e amparou.
Lene não era um exemplo de mulher. A vida não proporcionou isso a ela. Mas amava, direito este dado ao ser humano no momento de sua visão da luz. No berço, no seu nascimento. Esse direito ninguém pode nos tirar. E Lene amava Jorge. Do seu jeito parrudo de amar. Mas amava. Incontestavelmente.
Jorge esteve à beira da morte. A bebida cobrou seu preço. Esteve perto de não mais enxergar a luz. Nessa hora, a que chegamos a conclusão de que não sairemos vivos do fundo do poço, sim, nessa hora crucial, eu sou testemunha ocular de Lene estava lá, sempre ao lado do seu homem. Seu companheiro ou simplesmente seu passaporte para sair do submundo em que vivia.
Bem, tanto foi feito que Jorge escapou da morte, saiu da lama. Viu a luz. Largou a bebida. Refez sua vida. Comprou carro, melhorou a casa. Foi homem de novo. Depois de viver anos sendo um nada, um peso morto na vida dos outros. Lene, com toda a sua rusteza, foi-lhe uma âncora, uma muleta, uma escada. E apoiou-lhe nas horas cruciais da vida, até mesmo nas horas cruciais da morte, quando esta rondou-lhe o leito sujo em que dormia.
Finalmente saiu do fundo do poço.
Depois de voltar a ser homem de novo, Jorge abriu os olhos para o mundo. O tempo passou e ele percebeu que Lene era uma mulher mais velha, cansada e exausta de brigar com a vida. Queria paz e um cantinho pra recostar a cabeça.
Jorge queria guerra, e sangue novo para alimentar a vaidade humana. Partiu à cata de algo “melhor”. E encontrou algo mais novo, menos cansado e mais atrevido. Apenas esqueceu-se de dizer à Lene que ela não fazia mais parte da vida e dos planos dele. Que já não tinham mais sonhos em comum. Esqueceu-se até da própria casa e dos próprios filhos, porque quando partiu, não anunciou nem que voltaria pra jantar a comida que Lene preparava todas as noites pra ele. A comida ficou lá, no prato, esperando que Jorge entrasse pela porta e a reclamasse, a quisesse.
Lene esperou, mas Jorge não voltou. A comida azedou. Ao contrário do que esperava, Lene apenas percebeu que a cada dia Jorge só apanhava o pouco que lhe restava de suas roupas e ia alimentar a febre do corpo que o corrompia. Queria sangue novo, e estava conseguindo, como um vampiro sugando o sangue de sua pobre vítima na noite feroz.
Diante disso, Lene viu seu futuro cair. Já não havia mais alimento no armário. Já não havia mais café na mesa, carne no prato ou dinheiro pra comida.
Mesmo assim, ela forcejou pelo seu amor. Brigou, porfiou, esbravejou, rezou, suplicou, “...Até ao preto velho pediu proteção, mas de nada adiantou...”, como nos faz lembrar a letra de uma velha canção da década de 70.
Vendo resvalar pelos dedos suas esperanças, Lene parou. Desistiu. Não de Jorge, mas da vida. De lutar pela esperança. Para ela, já não fazia mais sentido viver.
Depois de sua dedicação, era essa sua recompensa. E este golpe final, por fim atingiu seu coração insalubre. Este já não batia no mesmo compasso do seu companheiro. E na sua batida desritmada, arrastou também seu corpo, que passou a definhar-se a cada entardecer. A cada pôr-de-sol ela sentia-se menos gente, menos viva, menos alma.
Jorge foi-se, e com ele carregou as únicas forças que ainda restavam à pobre.
Assim, com o passar dos dias, Lene não quis mais a vida. Por mais que lhe implorassem os amigos, por mais que dissessem, ou suplicassem, ela simplesmente não ouvia. Estava sendo consumida pelo seu amor. Seus olhos estavam focalizados apenas numa única direção: o vazio! Era surda e muda, corroída pelo próprio sentimento, misturado à impotência e a inutilidade da vida.
E, um dia, arrasada pela doença, pelo desgosto e pela desilusão, Lene morreu. Assim, sem dar muita explicação. Me arrisco a dizer que apenas fechou os olhos e deixou seu coração parar. Por que morta, ela já se sentia a muito tempo.
Morreu por amar... morreu de amor... o sentimento nobre que deveria dar vida e força a todo ser humano. Foi este o algoz do coração da pobre alma que um dia sonhou que poderia ser gente e que poderia ser até mesmo feliz.
Quanto à Jorge, nunca mais voltou. Ainda continua por aí, ninguém sabe onde anda, ou andará. Ainda suga o sangue novo que encontrou. Até quando não se pode prever.
A única coisa que podemos imaginar é que um dia há de encontrar-se consigo mesmo, com o seu guardião da mente, e ainda há de perguntar-se por que em algum momento de sua vida, ele simplesmente não voltou apenas para se despedir daquela que na sua sapiência rude o empurrou para cima, e com esse gesto nobre, desceu aos infernos pela última vez.
Dizem as más línguas das senhoras inconstantes que em noites de lua cheia, Lene ainda está lá, sentada na porta de sua casa, esperando que Jorge volte para jantar aquele último prato que ela lhe preparou e para assim dar-lhe seu último adeus, pois nem mesmo isso a vida permitiu à reles ter. Nem mesmo a despedida do seu amor mais recôndito.
A Odisséia da vida é mesmo assim. Amor e sofrimento andam de braços entrincheirados. Ave, àqueles que amam e morrem pelo amor. Sem pedir pagamento, pois fácil é amar quem nos ama. Difícil mesmo é morrer de amor por quem nos odeia. Viva Cristo!

quinta-feira, 22 de março de 2007

"...Não jogue suas pérolas aos porcos..."


“Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis as vossas pérolas diante dos porcos...”, disse Cristo aos seus discípulos.
Um dia desses, lendo essa passagem bíblica, onde Jesus proferia o seu famoso “Sermão da Montanha”, registrado no Evangelho de Mateus, capítulo 7, versículo 6, comecei a raciocinar como isso podia ter algum significado na minha vida pessoal.
Bem, naquele caso, Jesus falava de desperdiçar preciosidades com quem não tem receptividade. Segundo o Homem de Nazaré, seria como jogar “pérolas aos porcos”.
E hoje? Que significados assumiriam exatamente estas palavras?
Bem, falando de situações minhas, extremamente pessoais, quero dizer que me senti como se tivesse desperdiçando um tesouro com quem não poderia usá-lo, sequer reconhecê-lo como tal, dia desses aí. Me senti exatamente como Jesus falou ao lidar com alguém que não valorizou meus atos, minhas atitudes e inclinações. Você sabe o que é agir, falar, ser realmente verdadeiro durante um tempão e não ser valorizado? Você sabe o que é demonstrar isso e não ser reconhecido? Digo reconhecido por que não se tomam atitudes reais, íntegras ou verdadeiras esperando a retribuição. Não a retribuição, mas o reconhecimento. O respeito.
As pessoas gostam de ser reconhecidas por um bom trabalho realizado, uma boa palavra falada, um bom escrito ou até um conselho guardião da vida de outrem. Quando isso não acontece, a decepção é muito profunda. Beira o fracasso.
Pois é, você luta, perceja, esforça e não acontece absolutamente nada.
E eu me senti assim. Joguei minhas preciosidades na lama. “...Aos porcos”, como disse o maior homem que já viveu. Foi um sentimento de inutilidade tamanho, mas não totalmente fútil. Houve aprendizado.
Aprendi que, não importa o nosso esforço para com determinados assuntos ou determinadas pessoas, ainda assim nem sempre seremos reconhecidos. Não importa o nosso desejo de que elas entendam que labutamos em dar o máximo de nós para uma causa, um sentimento ou um trabalho, ainda assim será pouco. Quase nada.
É fato chegar à conclusão de que para estas pessoas, desperdiçamos nossos talentos, nosso tempo e nossas forças. Para estas, “lançamos nossas pérolas aos porcos”. Não adianta. Temos que esquecer. Despachar, fazer andar, deixar prosseguir e ao mesmo tempo também prosseguirmos. Passarmos adiante. Lá na frente haverá de ter quem valorize nossas ações, nossos trabalhos ou nosso sentimento.
Mas isso não pode e não deve servir de consolo. Haverá de ter mesmo alguém. Existirá!
Depois de perambular por uma situação muito estressante, eu pude mesmo confirmar que não há nada melhor do que um dia após o outro. Mas a lição de Jesus ainda permanece e permanecerá. Nossas preciosidades, aquilo que temos de melhor em nós, nossos talentos ou até mesmo nossos sentimentos não devem ser desperdiçados, jogados ao vento... “lançadas aos porcos”. Ainda uma amiga se sentiu ofendida um dia desses quando eu disse a ela que pelo fato dela não valorizar uma atitude minha, eu estava jogando pérolas aos porcos. Nossa!!! Ela ficou de bico torcido alguns dias. Disse que eu a havia chamado de porca. Claro que não foi isso! Ela na sua absoluta inteligência sabe que eu quis dizer que estava desperdiçando meu tempo com algo que ou ela não entendia ou não queria entender. Mesmo assim ela Não se conformou. Mas se conformando ou não, a verdade e a moral da história é sempre a seguinte: Para determinadas pessoas, não devemos perder o nosso tempo. É melhor seguir adiante que certamente encontraremos quem nos valorize por completo. Amém!

sexta-feira, 16 de março de 2007

" Pérolas de Paulo Narciso - Parte Um "

- "...Não me venham com converscotes, eu quero é informações!"
-" Entre o bom e o bonito, fique sempre com o bom!"
- " Se você põe um pé num cavalo e outro pé em outro cavalo, com certeza cairá quando os dois arrancarem..."

domingo, 11 de março de 2007

" Quando não é proveitoso, excluímos do msn! "



O “messenger”, mais comumente conhecido como MSN é um grande aliado. Nos ajuda a manter contato com nossos amigos, nosso colegas de trabalho, nossos clientes e por vez até com nossos amores. Não raro os diretores de departamento em suas empresas sempre tem que tomar algumas medidas “preventivas” por que julgam que seus funcionários estejam “desperdiçando” tempo com esse instrumento cibernético.
Eu não penso assim. Sou um grande defensor do MSN em todas as facetas que citei acima.
Em muitos locais de trabalho, a gente percebe que o pessoal sempre fala da vida alheia. Em muitas repartições, a hora do cafezinho é extremamente desperdiçada com conversas do dia a dia, às vezes fora de hora, às vezes inoportunas demais. Às vezes intrometidas demais nos assuntos alheios. E isso com um agravante avolumado: a ausência de trabalho e de produção. Olha, tenho o desprazer de confessar que tenho colegas de profissão que saem de suas casas e vão dar cabo da vida alheia no local de trabalho. E não venham me dizer que o ideal é que a conversa paralela não exista no ambiente de trabalho por que ela SEMPRE vai existir, quer queiram ou não. Quer os donos de estabelecimentos aceitem ou não. Então, defendo a tese: Já que é pra conversar, por que não conversar e ao mesmo tempo produzir?
Aí é que entra o MSN. Você o utiliza sem precisar levantar da sua mesa de trabalho, sem deixar de atender um telefone ou terminar de preencher um relatório. Então você conversa, mas produz. Você pode entre um formulário e outro, responder a uma pergunta de um amigo, de um amor (por que não?) ou tricotar a vida alheia com um colega de trabalho. Olha só, você pode fofocar e ao mesmo tempo produzir. Sem contar com a privacidade que o MSN dá por que a gente não precisa nem botar a boca no mundo pra falar mal do chefe. Faz isso teclando suavemente e quase em silêncio.
Mas, brincadeira à parte e agora falando de como acho importante mas ao mesmo tempo perigoso o uso indiscriminado do MSN, posso citar acima de tudo o critério que devemos ter ao selecionar nossos amigos. Virtualmente isso não é fácil, reconheço. Não temos nem mesmo como avaliar a cara ou a reação que um amigo virtual faz ao falarmos com ele algo de que realmente não gostou. Só se tivermos o acessório da CAM, o que hoje em nossos dias nem todo mundo tem. Nem as “Lan-House” tem em todos os seus computadores, que dirá nós, cidadãos das “galés” suburbanas da vida.
Então, sugiro como usuário há mais de cinco anos desse acessório importante da vida “internética”, que à medida que o tempo for passando e você perceber que se equivocou ao escolher uma amizade através do MSN, não o bloqueie. Exclua-o definitivamente. Elimine-o por completo de seus amigos e contatos. Bloquear é meio falsidade. É dizer que você não está on-line, estando. É mentir de alguma maneira. Excluir é declarar que você não quer mais a companhia. É assumir até mesmo que você se enganou. Por que não? Assim como a pessoa pode se enganar querendo a sua amizade, você também pode se enganar fazendo o caminho contrário. Não vejo nada demais nisso. É apenas uma declaração pública, uma confissão de que o ser humano erra. É realmente ser sincero. Coisa que poucas pessoas tem a coragem de ser em nossos dias. É pedir penitência e mostrar que como ser, o homem vive aprendendo com seus erros. E é assim que acho interessante me sentir. Certo por conviver com o errado. Verdadeiro ao conviver com a mentira. O MSN é talvez uma forma de demonstrar isso.
Na verdade a conclusão a que chego é que o MSN é um instrumento. Uma arma poderosíssima para se estar em dia com todos e de estar em comunicação com o mundo. Mas isso não significa que tenhamos que aceitar contatos por aceitar. Como diria minha grande amiga Rhádila Beckker, hoje feliz da vida na Alemanha vivendo e aproveitando o amor de sua vida que conheceu através do nosso querido "messenger": “O MSN é pra quem é dos meus, caso contrário, excluo mesmo”!
Vejo que ela está certa. Percebo veracidade em suas palavras. E acho que passo adiante a receita. Use o “messenger”, abuse da sua arte de fazer amigos, mas ao mesmo tempo, se percebeu que alguma coisa está errada, se percebeu que algo não é proveitoso, exclua! Delete mesmo!... Para o seu próprio bem...

sábado, 10 de março de 2007

Uma homenagem autêntica para uma pessoa autêntica


Hoje queria falar um pouco de uma amiga que me deixou a algum tempo para estudar em outra cidade. O nosso tempo de convivência foi relativamente curto, se dissermos que um ano é pouco tempo. Mas nesse meio tempo aprendi com essa amiga uma coisa muito importante: o ser a pessoa mesmo! aprendi a não ser o que não dá pra ser.Descobri que isso se chama: autênticidade.Talvez eu ainda não soubesse ou não entendesse o que era isso antes do nosso convívio, mas depois da sua partida pude entender o que é se dar bem com alguém. O que é conviver sem ter que cobrar do outro a ausência. Aprendi também que isso se chama individualidade. A não-anulação da própria pessoa e de seus compromissos em função de outrem. Isso, aprendi com ela. E tem me servido de base para ser amigo de outras pessoas também. Confesso que tenho me sentido muito bem sendo dessa forma, depois de ter sido agraciado com esse aprendizado e ao mesmo tempo esse presente vindo de minha grande amiga. Confesso que depois de aprender e viver tudo isso, ficou mais fácil ter pessoas ao meu redor e no meu círculo de amizade gostando de mim do jeito que sou. Gostando de mim por eu ser eu mesmo. E acho que estou querendo ser melhor a cada dia. Para tanto, digo que hoje minha homenagem é para minha mais que amiga Michelle Parron, com quem tanto aprendi e com quem tenho o prazer de conversar ainda todos os dias pela internet. Aliás, bendita internet que não nos deixa longe das pessoas mais queridas da nossa vida mesmo quando elas estão longe!

quinta-feira, 8 de março de 2007

O julgamento é seu

As pessoas confundem "Bife ali na mesa" com "Bife à milanesa". Francamente falando, é fácil você saber quando uma pessoa mente e quando ela fala a verdade. É fácil você saber quando as pessoas valem a pena e são seres humanos de caráter real ou quando são de caráter duvidoso. É fácil saber quando as pessoas tem brio e quando são mesquinhas.Fico contente que meu blog agora esteja aberto aos meus amigos leitores para os seus demais comentários. Por que a partir de agora realmente o que escrevo vai penetrar fundo na alma dos que entendem a vida e dos que querem fazer da vida uma completa balbúrdia. Um completo inferno de Dante.Hoje acordei um pouco melhor do que ontem. Ontem eu ainda tive dúvidas se valia a pena a atenção de alguém. Hoje eu tive certeza...de que não valia. E isso fez minha consciência respirar. Isso fez o piano pesar como uma pena.As pessoas que para se "safarem" tiram o seu ... da reta, prá mim não tem brio, não tem caráter e valem muito pouco no quesito "gente". Parte disso é a própria mentira que querem infundir nos outros, como se nós fôssemos os culpados pelas suas atitudes intrínsecas, ou como se fôssemos meninos, ou idiotas, ou pior ainda: insistentes, coisa que não somos.Quem perde com isso? Quem não tem brio e não é honesto. Quem tem problema de personalidade. Aliás, quem perde com isso é quem nem mesmo tem personalidade. Tem pouco de gente.Com esse tipo de pessoa, não vale a pena a amizade, o amor e a alegria da convivência.É um pesar que o mundo ofereça pessoas assim ainda para o nosso convívio.Quanto às culpas, deixemos que o tempo as demonstre.Não há necessidade de pressa... e nem de falatórios.Há necessidade no mundo de mais honestidade, e mais sinceridade.Porém, me resta o sentimento de pena de quem não age com escrúpulos.Isso me faz lembrar em muito a política do mundo: corrupta, suja e ilegal.Eu sei que eu sim, sou eu mesmo, aqui ou no japão.Quantos aos outros, como dizia a grande intérprete Paula Toller: " os outros são os outros...e só!"

quarta-feira, 7 de março de 2007

A FALTA DE INFORMAÇÕES É O QUE GERA O PRECONCEITO

Sinceridade, as vezes me falta paciência pra aceitar a imperfeição dos outros. Mas não posso culpar as pessoas, culpo a falta de informação. A falta de preparo. A falta de educação. E isso a gente observa no dia a dia, indo ao Banco e enfrentando uma fila. Lidando com amigos, clientes e companheiros de profissão, e assim por diante.As vezes eu me pergunto qual a dificuldade das pessoas em aceitar sugestões. Parece que aceitar sugestão diminui alguém. Me lembrei com isso de uma ocasião em que sugeri a um senhor em Belo Horizonte utilizar a faixa de pedestre. Ele me dirigiu palavras lindas e maravilhosas que se você lesse aqui, nem entraria mais neste modesto blog. Mas ele era um senhor, que vivia na capital há pelo menos uns 50 anos e estava acostumado a atravessar a rua naquele lugar errado todos os dias. Naquele dia o trânsito estava intenso e então não deu certo ele atravessar. Mas não sei por que cargas d´água aquele senhor não aceitou minha sugestão. Preferiu ficar lá, esperando por pelo menos mais meia hora para atravessar a Avenida Afonso Pena do que andar uns 150 metros e atravessar a faixa. Bom, mas volto a insistir...era um senhor, e eu posso entender que se sentisse diminuído ou até ofendido em ouvir alguém mais jovem dizer-lhe o que fazer.Agora quando ouço alguém que tem a vida inteira pela frente para aprender simplesmente renegar a uma sugestão, aí realmente acho puro preconceito. E não é a uma ordem: é sugestão mesmo. Aí isso me fere. Me deixa sem paciência com vontade de rasgar a boca no mundo e mandar todo mundo se catar.Bom, nem sempre é prudente. Nos meus 36 anos de experiência aprendi que não é prudente. E não é mesmo!Sendo assim, calar a boca e deixar que cada qual veja por si que o que disse nem sempre é o ideal, certo ou o correto, é imensuravelmente melhor. É preciso paciência pra isso. Mas é o melhor.Sendo assim, quem sabe o meu apêlo para que as pessoas se informem mais estando registrado aqui seja até mais produtivo do que tentar falar com elas. Penso que no caso destas pessoas mesmo do alto do nosso pedestal é preciso descer um minuto, prá ouvir a ralé, os plebeus, os indigentes.Não me tomem por dramático. É que dizendo assim, e só assim devo imaginar que as pessoas possam entender que nesse mundo tão ligado pela comunicação, pela informação em tempo real. É exatamente neste mundo informado que a falta de informação é o que mata!

terça-feira, 6 de março de 2007

Pequena dissertação de fim de caso

O amor tudo perdoa. Até a falta do próprio amor. E hoje me sinto mais maduro para perdoar o engano em ti.
Foi com muita tristeza que falei com você ao telefone naquele sábado fatídico. Apenas me certifiquei que nossos valores eram e são diferentes. O que é um sentimento puro pra mim não passa de um envolvimento qualquer pra você. Uma brincadeira de paixonite “teen”. Ouvir você não levar em consideração nenhuma palavra que eu falava ao telefone por estar absorta na sua “chacrinha” particular e querendo disfarçar para os seus amigos a nossa conversa foi a gota d’água. Doeu profundamente. Ver que a sua atuação diante deles era de quem estava conversando com alguém meio insistente, meio besta, fez-me compreender que afinal de contas, eu não era tão importante assim. E que enfim, a maturidade emocional ainda está longe de você. Aliás, triste constatação, mas, convenhamos, o que sou eu diante de uma eternidade de amigos não é mesmo? Perdoe a ironia, mas ela se faz imprescindível diante da minha pesarosa conclusão. Pesarosa, mas necessária! Imputante, mas ao mesmo tempo importante! É perceptível que seu coração ainda não está maduro para o amor. Ele não está pronto. Você ainda não desvendou essa lacuna no sentimento humano. Porém, isso não te faz uma pessoa pior. Apenas despreparada. O que necessariamente não significa que será assim para sempre. Isso é normal em um período de nossa vida. E você é um ser humano como qualquer outro. Tenho a mais absoluta certeza que não será para sempre. Por que afinal, você é superior. E acima de tudo, é esperta e inteligente. Vai chegar lá. E isso será grande motivo de alegria pra mim. Digo sem hipocrisia, e sem a ponta de ironia da frase anterior. Ficarei e estarei feliz nesse dia. Mas por hora, deixemos que a vida siga seu rumo. Deixemos que ela própria assuma a direção e tome o leme. Não quero me tornar em sua vida como os outros relacionamentos. Um estica-encolhe, um vai-e-vem, um termina-começa que vai se arrastando como uma serpente peçonhenta consumindo com o veneno dela nossas vidas e nossas alegrias. A minha proposta não foi essa. É preciso descomplicar, facilitar, deixar leve e fazer fluir. Para isso é preciso envolvimento, é preciso vontade. Isso sobra em mim, mas falta em você. Quem sabe a famosa “química” no amor de que tanto falam e tanto dizem não aconteceu, não é mesmo? É preciso compreender isso. Compreender e sobretudo, aceitar. Não quero fazer acusações, como se a culpa fosse somente tua. Não. Em um fim de relacionamento existirão sempre motivos bilaterais, e certamente em algum momento eu também fui errado. Em cobrar ou pedir, em sufocar ou até mesmo deixar transparecer uma pitada de ciúme. Nós sabemos que o ciúme corrompe e atrapalha. E nunca é bom pra ninguém. E ele pode ter sido o grande responsável pelo sonho ter-se desfeito ou desabado.
Mas enfim, é bom também lembrar o que de positivo aconteceu.
A mim resta o consolo supremo de que marquei sua vida. Sou feliz por isso e por saber que por onde passo, deixo coisas boas às pessoas que me rodeiam, e as pessoas as quais também quero rodear. E sei que deixei coisa boa em seu coração. Contribuí para que de alguma maneira você pudesse compreender o real humanismo cheio de sinceridade. Meu coração é sincero. Disso você jamais terá dúvida. Jamais. Pus o telefone no gancho naquele sábado com a leveza de um ser puro, firme e confiante de ter feito a sua parte. Sim, a minha parte, fiz.
E a sinceridade deste meu coração poderá produzir bons frutos. Poderá ser capaz de te conduzir. De te dar uma candeia no breu, para que com ela você possa seguir sua trilha em busca da tal felicidade, que, tenho certeza, não tardará. Isso é o lado bom das experiências em nossas vidas.
Bem, está na hora de dormir. A noite já vai longa e não terminará logo. Pelo menos não pra mim.
Estou de consciência limpa de que enfim fui honesto, fui sincero e fui amigo.
Agora resta ao tempo encarregar-se de deixar que a amizade perpetue. Que ela perdure e seja enfim uma grande aliada de nossas vidas.
Com certeza nos encontraremos. Com certeza. Não digamos adeus.
Digamos até breve.
Beijos fraternos.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Palavras que alimentam a vontade (ou a verdade)


Foi boa esta última tarde. Foi proveitosa. No céu eu sentia que a chuva parecia querer dar o ar da graça. Mas ela só quis. Não veio. O tempo estava mesmo colaborando conosco. Queria fazer uma gentileza. E assim fomos fazendo aquilo de que mais gosto. Conversávamos. E foi bom ouvir algumas coisas que você tinha a dizer. Essa nossa conversa também revelou que eu não era enfim tão gente como você achava. Acho que demonstrei até meu lado meio bicho. Pitoresco até. Mas de qualquer maneira, a tarde foi assim cheia de muita conversa. E isso é que deixou tudo melhor. O sol as vezes nos assistia. Acho até que nos observava de verdade, com olhos e tudo. Mas qual nada. Tímido, recuava e escondido, nos deixava em paz. A sombra debaixo da árvore na porta da sua casa nos protegia e nos enchia de vigor. E enquanto isso, nós falávamos... de tudo. E sorríamos... e íamos nos estudando. Realmente, como há muitos anos não acontecia. Eu gostei. E você, será que gostou? Será que apreciou a companhia de um homem velho, cheio de excentricidades e esquisitices que a idade e os cabelos brancos impõem?Mas o tão importante nesta tarde no fim do verão é que nós conversamos. Até termos mais vontade de conversar. O tempo passou, os compromissos ficaram para depois, mas a nossa conversa percejou. A nossa prosódia soergueu e aludiu. Esparramou. Fizemos calo na boca, de tantas palavras balbuciadas. Nos esquecemos que afinal éramos um homem e uma mulher cheios de vigor, de objetivos e esperança. De aspirações também. E estávamos ali, defronte a rua e prontos para o mundo. E de frente um para o outro. Você com um rosto infantil que a vida lhe propôs ter, e eu, com a experiência que a vida acresceu-me ao longo dos anos. Eu acho que fui contagiado pela sua juventude, e de certa forma te deixei um pouco mais velha no fim de tudo. Foi uma troca, você me deu força, e eu te dei sabedoria. Mas nos esquecemos que as pessoas passavam, tamanha era a nossa avidez pelo nosso embate falante. Elas íam e vinham para os afazeres da vida e nós permanecíamos ali como se nada acontecesse, como se o mundo não existisse ou como se ele fosse só nosso. Atuávamos como donos do próprio mundo. Quiçá do universo, quem sabe. Afinal, aquela conversa revelou que podíamos tudo. Que bom! Falamos de tudo um pouco. Do mundo, dos livros, de festas, de alegrias, de choro, da maldade na língua das pessoas, do carnaval, dos amores esquecidos, do amor atual, e da necessidade de ser razão e coração ao mesmo tempo.Cheguei a conclusão de que esta tarde foi preparada. Desenhada. Feita na medida para que soubéssemos um do outro. E soubemos. Que bom! Pelo menos soubemos. Era isso que importava. Novamente, que bom! Talvez desta tarde surja alguma coisa. Não se sabe ainda o quê! Mas pra quê saber? O que interessa mesmo é que houve uma tarde. Houve fala. Houve mesmo conversa. Houve um momento entre nós. E isso já é o bastante pra deixarmos as coisas seguirem seu curso natural. Não sei onde vai dar, mas será em algum lugar. Talvez surja alguma coisa no horizonte, mas caso não surja, esta tarde proporcionou sim uma grande descoberta para nós. Já valeu. Por isso, será elegantemente intitulada e imortalizada como Tarde dos Sonhos. Será assim... e será para sempre.Que bom!

Nada talvez seja tudo


E um vazio insiste em tomar conta. Por mais que eu saiba o que é correto, a saudade grita mais alto. É mais forte. O vazio talvez seja o resultado da ausência do teu espírito em mim. É um vazio pesado. É maior e é tamanho que não existe dimensão para defini-lo.É um oco. Um vão. É só. Solidão.A definição de sua ausência é a tristeza reinante. A agonia que toma conta de um ser afetado pelo modo insípido de encarar a vida.O dia foi insípido. Arrastou como se não passasse. Como se não quisesse chegar ao fim. Teimou em não acabar. E você teimou em não passar junto com ele. E não passou. Na mente. Na cabeça. Nos cabelos. Desgrenhados. Não os penteei. Não quis. Eles representam o protesto. A linguagem do meu lamento por ti. Pela sua inexistência. Ausência. Ou simplesmente... sua partida do meu diário vivo.Sim. Ter você está cada vez mais distante. Ao menos sua companhia tem se tornado um risco diário. Um perigo rondando a porta. Sendo assim, é melhor prosseguir no mar da vida como uma nau sem rumo. Sem o seu corpo presente. Pois que seja sem você. Sua companhia é sinônimo de sofreguidão. De insegurança e ao mesmo tempo de lamúria.É hora de reconhecer o fracasso.Já não é mais dia. É noite. Enfim, foi o próprio dia que me arrastou até aqui. Apenas para chegar a exaustiva conclusão de que a disputa teve um fim. Ela foi vencida pelos meus inimigos, meus rivais ou simplesmente meus companheiros de luta. Não sei. Sei que meus ombros pesaram. Como se eu carregasse um piano. Estou cansado. De correr para você e ao mesmo tempo ver que você já não existe. Já não ocupa o mesmo lugar. Não é mais onisciente em minha vida.Deitei-me. Rezei. Fechei meus olhos e como num aceno, dei meu ultimo adeus à sua sombra. É hora de dormir e deixá-la do lado de fora dos meus sonhos. E ao mesmo tempo em que sonhar, vou acordar sentindo que estou dormindo no vazio das suas lembranças.Boa noite. Dorme bem. Fica bem.Eu velo por ti.Talvez em qualquer lugar, possamos um dia reencontrar o elo perdido. A fagulha que faltava. Para só assim descobrirmos o prazer que a felicidade dá aos amados e amantes quando a entrega é ambígua.Amém.

A trilha dos trilhos dos sonhos


Uma brisa matinal passeava lentamente sobre o lago azul celeste que havia atrás da casa de adobe próximo a estaçãozinha de Pires. Era uma casa abandonada. Não tinha sido assim no passado. Um dia aquilo tudo ali já tinha sido movimentado. Em algum tempo um borbulhar de pessoas trançavam aqueles trilhos de um lado para outro como se fosse um ninho de formigas. Homens trabalhando, mulheres falando da vida alheia e crianças recostadas nas muretas das casas brincavam de pique-esconde ou de porta bandeira. Tudo ali fervia de vida e de poder de espírito. Mas hoje, estávamos diante de uma velha casa recostada com dormentes podres em suas paredes tentando deixar existir o que parecia querer avidamente desaparecer. Mas, olhando copiosamente a centenária construída de barro e cal, nós refletíamos saudosamente e seguíamos em frente no balanço e nos solavancos dos vagões. Como se fosse um compasso de música aquele balançar parecia nos ninar naquela tarde gostosa de setembro. E olhávamos bem atentos à locomotiva lá na frente fazendo a curva primeiro do que o compartimento onde estávamos. A música tocava, o trem serpenteava e os desencontros dos vagões soava como uma valsa profunda que nos confundia e fazia-nos chorar, sorrir e pular de alegria ao mesmo tempo. O sol dava o ar da graça naquele crepúsculo e assim lançava seus raios fazendo o céu ter uma face multicor. Um misto de azul e vermelho com um amarelo refletido bem ao centro, por baixo, como se fosse um colchão d`água recostado na colina verde que refletia a sombra das densas nuvens no fim do dia.E assim íamos nós de encontro à nossa juventude. O barulho permanecia como música nos ouvidos. Lá bem ao longe alguns bois pastavam intactos, incólumes, intocáveis. Pareciam estátuas brancas do tempo. Fixos. Imóveis. Só se fizéssemos muito esforço a nossa visão conseguia captar um imponente garrote de chifres pontiagudos abanando o grosso rabo para se livrar de alguma mosca que o incomodava no lombo. Mas tinha que se cerrar demais os olhos para enxergar isso. E nós não queríamos enxergar nada que não fosse o vulto da nossa meninice.Era assim...O balanço seguia...Te-dé, te-dé, te-dé!!!Foooooooooooooooommmmmmmmmmmm!!!!Nossa!!!! A locomotiva buzinou como se estivesse dando um grito de desespero na frente.Será que havia passado por cima de algum animal distraído no meio dos trilhos? Isso era comum nos tempos de criança. Agora, queríamos ser de novo como na época das travessuras. Alvoroçamos como guris inquietos e curiosos. Mas, qual nada, era só um bando de reses que haviam se descambado desfiladeiro abaixo perto da ponte sobre o riachinho, amedrontadas ao serem perseguidas pela serpente gigante com cabeça vermelha que se avizinhava em cima das duas linhas pretas e metal-brilhantes que haviam se estabelecido na “ruralidade”.E o balanço seguia.Junto àquele balanço a cabeça agora emaranhava minha vida.Lembranças tênues enchiam a massa que cobria o invólucro osseóide que me pertencia, e que preenchia meu ser. Naquelas recordações, imagens do meu pai vieram . Sua sombra estava como que ali caminhando ao meu lado. Na verdade, era mesmo do lado do trem. Andando, bem devagar e com a cabeça bem erguida, olhando o horizonte, como era seu costume fazer. Um das mãos na cintura, e a outra apontando a serra verde bem depois do campo de flores na frente do curral. O dorso nu, e uma camisa de flanela jogada nos ombros, reclamando o calor abrasador que o astro-rei lançava na atmosfera parda. Sim....ali estava ele, como se quisesse dizer que aquele campo era o mais belo dos campos que já vira. Era como se eu o ouvisse dizer que ao alcançar sua velhice queria viver num lugar assim, bem defronte ao lago. Ele havia repetido isso muitas vezes na sua trajetória.É!!! Era ele, eu podia quase ver. Eu podia praticamente enxergar seus dois metros de altura e sua silhueta imponente adquirida desde os tempos em que era um exímio jogador de futebol. Ele acenava, e se despedia como se fosse viajando também pelo tempo. Eu estava mesmo vendo. E assim como a lembrança veio, assim se foi. Era como se caminhasse bem devagarinho em direção ao nada. Desapareceu, ao embrenhar-se com as nuvens e com o horizonte que passava, que caminhava de encontro ao nosso andante.E o trem seguia.A cidade já mostrava seus contornos. Alguns casebres já se aventuravam em aparecer, como se timidamente quisessem nos dar boas vindas. Afinal, estávamos chegando. A locomotiva diminuía seu compasso. A música chegava ao término. Ficava mais lenta.Tudo ficava mais triste. Os amontoados de residências e pessoas no crescente nos avisavam que o passado tinha ficado pra trás. Agora era mesmo passado. Só lembrança. Mas que bom, que ótimo que existia em nós um passado, um presente e quem sabe, um futuro.Acabou-se a música, acabou-se a viagem.Mas não acabou a esperança. E a vontade de dar prosseguimento a alma que estranhamente insiste em ir adiante, como se o futuro fosse eterno, e como se as pessoas que fazem parte da história jamais morressem. O trem parou. Era Montes Claros. Chegamos. Acabou-se a odisséia.Descemos. Agora era hora de voltar ao mundo, à realidade grotesca, feita de carne e osso, mas com mais osso que carne. Foi-se embora o trem. Levou nossa vida. Levou o passado. Levou a memória. Levou as lembranças. Levou o horizonte. Levou a nostalgia. Levou a música.Mas nos deixou alegres, com a alma revigorada e pronta pra mostrar ao mundo que ainda somos gente, existimos. E que temos o que contar aos nosso filhos e aos nossos netos.Adeus, trenzinho! Leva tudo mesmo. Mas não esquece de, com o som do seu apito e seu serpentear pelos trilhos, avisar a quem atravessar o seu destino que a vida não é só isso. Ela é muito mais, porque permite a cada ser humano sonhar.E é de sonhos que se constrói o mundo. É de sonhos que vivemos lembrando o passado, e é de sonhos que levantaremos as paredes do futuro.Adeus meu trenzinho! À Deus, trenzinho!...

Traquinagens de Moleque-1

Era com ansiedade que eu olhava para o
fim da rua. Afinal, A mãe ia dobrar a esquina e eu estaria livre pra chamar o
Léo. A Juju ia ficar a tarde toda na casa de Liane, e o Mel, esse não tava nem
aí pra mim. Só queria saber de escutar música com Aline a tarde
inteira.Pronto...um, dois e...zás!!! A mãe virou....Iupiiiiii... Agora eu já
estava pronto. Corri como um louco pra dentro de casa, atravessei o portão e fui
surpreendido pela Chitara. Ela veio com toda força e colocou suas patas
dianteiras bem em cima de mim. Nossa!!! Ela de pé era maior que eu. Como era
linda, assim em pé. Pêlinho alvo e bem baixinho. Ah...a mãe não deixava ela sem
tomar banho toda semana...tratamento vip! E era remédio pra carrapato, e era
vermicida, e era shampoo pra caspas... Às vezes tinha a impressão de que ela era
mas bem cuidada que eu. Xiiii...me distrai, tinha que ir chamar logo o Léo,
afinal, nosso tempo era curto. A mãe logo estaria de volta.Deixei Chitara vir
correndo atrás de mim, e de um salto, subi no tanque e debrucei no muro. A
música que o Mel tava ouvindo de dentro do quarto estava me atrapalhando chamar
o Léo. Mas mesmo assim, insisti!- Léeeeooo!!! Onde está você?Nada!!! Ninguém
tinha ouvido nada... resolvi arriscar mais um pouco e ficar de ponta de pé no
tanque, com o pescoço quase alcançando a mureta que separava nossa casa.
Insisti.- Léooo???.. Mas gente, o som que vinha de dentro de casa estava muito
alto. Desci do tanque e Chitara já estava pronta pra correr atrás de mim de
novo...ai meu Deus! Como era difícil me desvencilhar daquele animalzinho
implicante. Mas, depois de levar duas quedas por ficar trançado com ela, me
recuperei, abri o portão e ganhei a rua...Pronto, ia agora diretinho na casa do
Léo, e agora podíamos aproveitar aquela tarde antes da mãe chegar das compras.
Agora dava pra ele me ouvir. Num pulo, ganhei a rua...agora sim...ihhhh!!!!
Esqueci de fechar o portão. A Chitara veio atrás de mim. Ai meu Deus! Tenho que
colocar essa cachorra pra dentro. Ela não é bravia, mas causa medo. Um cão fila
sempre causa medo em outros pelo tamanho e pelo latido. Mas, quando me voltei,
não percebi que distraído e ao mesmo tempo preocupado com o dia de trabalho que
se aproximava de sua metade, afinal, eram apenas duas da tarde, vinha um
bicicleteiro, é, isso mesmo, um bicicleteiro, como meu pai costumava chamá-los.
Ele só se deu conta de que estava diante da Chitara a menos de um metro dela.
Zás!!!! Ele conseguiu sair fora da cadela que a mamãe cuidava com tanto carinho.
Mas, nesse desespero de sair fora, me achou pelo caminho. Ai meu Deus! Quem viu
aquele episódio deve ter ficado muito assustado. Nos embolamos no meio da rua,
eu, o bicicleteiro e a Chitara. Ninguém sabia quem era quem. Estávamos
entrelaçados, os três.O bicicleteiro levantou assustado.- Que é isso, guri! Tá
louco! E tira essa cachorra de cima de mim!Bem que eu tentei, mas meu braço não
obedecia, e pior...doía!!! Ai, como doía!!!Nessas alturas, a rua ficou
abarrotada de gente. Vizinhos e curiosos corriam pra saber o motivo do estrondo
que tinham ouvido. Isso é comum e normal de acontecer. Um amontoado de gente em
volta de um pobre coitado acidentado. Eu só não tinha me dado conta de que o
pobre coitado, neste caso, era eu. Dona Geni, veio correndo da casa dela,
esbravejando como era de costume.- Tito! Tito! Meu filho, o que aconteceu?...Eu
não sabia, só sabia que sentia muita dor.Seu Arquilino da venda, também largou
tudo e veio me socorrer.- O Braço dele está roxo, olha aí dona Geni.Pronto, Foi
o suficiente pra eu perceber que havia algo de errado.A este ponto do
acontecido, alguém já havia ligado pro meu pai e ele estava chegando. Segundo
fiquei sabendo depois, a minha mãe nem mesmo chegou a ir até as compras. Meu pai
a encontrou no caminho e colocou logo dentro do carro pra voltarem. Eu não
estava entendendo muito bem. Só sabia de uma coisa. Cada hora que passava meu
braço doía cada vez mais e parecia não caber mais na camiseta amarela que eu
usava, agora toda suja de poeira.O bicicleteiro ligava no orelhão para a sua
firma.Os garotos da rua de baixo já estavam todos amontoados em cima de mim, e
dona Geni gritava...- Saiam de cima, seus moleques arruaceiros. Tragam um copo
d’água pra ele! Toma meu filho. Levanta!Dona Geni simulou pegar o meu braço.
Nossa!!! Agora doeu, doeu de verdade. E a máxima do meu pai de que homem não
chora desta vez não valeu. Eu não consegui. Por mais que tentasse, não havia
jeito. A dor era mais forte do que o homenzinho que eu achava que era.Bem. com
todo esse alvoroço, quem se aproximou de mim foi o Léo. E me disse, até meio
preocupado...- E aí, "cajaca" ( esse era meu apelido ) o que tá havendo?- Não
sei, "cabeça", acho que machuquei o braço. O bicicleteiro me pegou quando fui te
chamar na sua casa. Te chamei pelo muro mas você não ouviu. O Mel tava ouvindo
som muito alto.Nossa!!! Naquele instante percebi que o Mel estava dentro de
casa, era melhor chamá-lo. Pedi a Dona Geni que o chamasse. Ela atendeu
prontamente, mas saiu resmungando:- Diacho de menino mais distraído, o irmão
quebrou o braço e ele, ouvindo música. Xiiii!!! O que era quebrar o braço? Mas
meu braço estava no lugar. Por que ele estaria quebrado? O Mel chegou, meio sem
jeito. Acho que Dona Geni deve ter falado umas palavras meio amargas.- Que foi
isso, Tito! Pelo amor de Deus, a mãe disse que era pra eu olhar você. E agora o
que vou dizer pra ela? Aline saiu logo atrás meio sem graça. O pai encostou com
o carro e a mãe chegou junto com ele. Ela olhou pro Mel mas não disse nada. Ela
era assim, não fazia escândalo. Ia acertar as contas mais tarde com ele. O Pai
me apanhou com muito jeito.- Guri Valente, esse meu rapaz! Agüenta até a dor de
um braço quebrado!Ahhhhh! Como era bom ouvir o velho falando isso pra mim. Me
senti um homenzinho de novo. Até parei de chorar.O pai me colocou no carro,
enquanto a mãe trazia uma roupinha pra mim. O Mel veio tentando ajudar com um
sorriso amarelo no rosto, mas a mãe ralhou com ele.- Olhe a casa, Melquisedeque,
se não pode olhar nem o Francisco, se preste ao menos a olhar a casa enquanto o
levamos ao pronto socorro.Coitado do Mel, tudo que ele não gostava era de ser
chamado de Melquisedeque. sei que ele ia ficar muito chateado com tudo isso.
Então resolvi ajudar.- Pode deixar Mel, eu vou voltar são e salvo, assim você
não se sente assim desse jeito.- Qual é, maninho, vai mesmo. Eu fico esperando
você. Vou fazer logo aquela vitamina de banana que sei que gosta. Tomaremos
juntos assistindo ao Jaspion na TV, tá?Fomos pro hospital. Acenei um tchauzinho
com o outro braço para o Léo que me olhava atentamente do outro lado do vidro do
carro e me acenou como quem quisesse desejar boa sorte.Vi meu pai conversando
com o bicicleteiro. Ele agora ia embora com sua bicicleta com os raios
empenados, a roda murcha como uma flor fora do vaso, e o guidão torto de dar dó.
Ele ia levando sozinho essa bicicleta pela rua e ainda disse algo parecido assim
quando passamos por ele, acho que consegui ler nos lábios: “ Calma Guri! Tu és
um garotinho muito valente!”...Eu fiquei com dó do bicicleteiro.Dona Geni
colocava a mão sobre a boca e seu Arquilino caminhava tranqüilamente pra
Mercearia da esquina. O Mel levou a Chitara pra dentro de casa.Tudo parecia
voltar ao normal.Só aquela dor que não passava.Mal sabia eu, que por conta do
que hoje sei ser uma traquinagem de criança, ia ficar quase um mês com um gesso
branco no meu braço e sem poder fazer o que eu mais gostava: traquinagem de
criança...