quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Palavras que alimentam a vontade (ou a verdade)


Foi boa esta última tarde. Foi proveitosa. No céu eu sentia que a chuva parecia querer dar o ar da graça. Mas ela só quis. Não veio. O tempo estava mesmo colaborando conosco. Queria fazer uma gentileza. E assim fomos fazendo aquilo de que mais gosto. Conversávamos. E foi bom ouvir algumas coisas que você tinha a dizer. Essa nossa conversa também revelou que eu não era enfim tão gente como você achava. Acho que demonstrei até meu lado meio bicho. Pitoresco até. Mas de qualquer maneira, a tarde foi assim cheia de muita conversa. E isso é que deixou tudo melhor. O sol as vezes nos assistia. Acho até que nos observava de verdade, com olhos e tudo. Mas qual nada. Tímido, recuava e escondido, nos deixava em paz. A sombra debaixo da árvore na porta da sua casa nos protegia e nos enchia de vigor. E enquanto isso, nós falávamos... de tudo. E sorríamos... e íamos nos estudando. Realmente, como há muitos anos não acontecia. Eu gostei. E você, será que gostou? Será que apreciou a companhia de um homem velho, cheio de excentricidades e esquisitices que a idade e os cabelos brancos impõem?Mas o tão importante nesta tarde no fim do verão é que nós conversamos. Até termos mais vontade de conversar. O tempo passou, os compromissos ficaram para depois, mas a nossa conversa percejou. A nossa prosódia soergueu e aludiu. Esparramou. Fizemos calo na boca, de tantas palavras balbuciadas. Nos esquecemos que afinal éramos um homem e uma mulher cheios de vigor, de objetivos e esperança. De aspirações também. E estávamos ali, defronte a rua e prontos para o mundo. E de frente um para o outro. Você com um rosto infantil que a vida lhe propôs ter, e eu, com a experiência que a vida acresceu-me ao longo dos anos. Eu acho que fui contagiado pela sua juventude, e de certa forma te deixei um pouco mais velha no fim de tudo. Foi uma troca, você me deu força, e eu te dei sabedoria. Mas nos esquecemos que as pessoas passavam, tamanha era a nossa avidez pelo nosso embate falante. Elas íam e vinham para os afazeres da vida e nós permanecíamos ali como se nada acontecesse, como se o mundo não existisse ou como se ele fosse só nosso. Atuávamos como donos do próprio mundo. Quiçá do universo, quem sabe. Afinal, aquela conversa revelou que podíamos tudo. Que bom! Falamos de tudo um pouco. Do mundo, dos livros, de festas, de alegrias, de choro, da maldade na língua das pessoas, do carnaval, dos amores esquecidos, do amor atual, e da necessidade de ser razão e coração ao mesmo tempo.Cheguei a conclusão de que esta tarde foi preparada. Desenhada. Feita na medida para que soubéssemos um do outro. E soubemos. Que bom! Pelo menos soubemos. Era isso que importava. Novamente, que bom! Talvez desta tarde surja alguma coisa. Não se sabe ainda o quê! Mas pra quê saber? O que interessa mesmo é que houve uma tarde. Houve fala. Houve mesmo conversa. Houve um momento entre nós. E isso já é o bastante pra deixarmos as coisas seguirem seu curso natural. Não sei onde vai dar, mas será em algum lugar. Talvez surja alguma coisa no horizonte, mas caso não surja, esta tarde proporcionou sim uma grande descoberta para nós. Já valeu. Por isso, será elegantemente intitulada e imortalizada como Tarde dos Sonhos. Será assim... e será para sempre.Que bom!

Um comentário:

Anônimo disse...

Nairlan...q bom q agora a gente já pode comentar...até q enfim vc resolveu isso...abs...euzinha ( vc sabe quem é)